Vila Nova Artigas

 

Vilanova artigas


    João Batista Vilanova Artigas, nasceu em Curitiba, em 23/06/1915. Morreu em São Paulo em 1985.  Arquiteto, engenheiro, urbanista, professor. Forma-se engenheiro-arquiteto pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP), em 1937, após ter sido estagiário na construtora Bratke e Botti. Abre uma empresa de projeto e construção com Duílio Marone a Artigas & Marone Engenheiros, ao mesmo tempo que participa de exposições da Família Artística Paulista (FAP). Em 1944, afasta-se da construtora e decide montar escritório próprio, ao lado do calculista Carlos Cascaldi. 

    Recebe, em 1946, uma bolsa de estudo da Fundação Guggenheim, que lhe permite viajar por 13 meses pelos Estados Unidos. De volta ao Brasil, em,1948, participa da criação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), onde passa a lecionar. 

Vilanova Artigas é vencedor dos prêmios Jean Tschumi - Union Internationale des Architectes (UIA) de 1972, por tudo aquilo que contribuiu ao ensino arquitetônico; e vencedor por sua obra construída do Prêmio Auguste Perret, em 1985 – ano de seu falecimento.


Obras: 


estádio morumbi

    O arquiteto Vilanova Artigas, projetou um dos sonhos da equipe São Paulo F.C: o estádio Cícero Pompeu de Toledo, conhecido como Morumbi. A construção teve início em 1952 e consumiu 18 árduos anos até ser finalizada. A primeira inauguração, ainda parcial, foi em 02 de outubro de 1960, na partida contra o Sporting-POR vencida pelo Tricolor com o célebre gol de Peixinho, o primeiro da história do Morumbi. Somente em 1970, porém, o estádio seria inteiramente entregue à torcida são-paulina. No início o estádio tinha capacidade para 149.408 pessoas, com a modernização e a inclusão de camarotes, atualmente, a capacidade de público foi para 66.795. O Estádio Cícero Pompeu de Toledo se encontra hoje em um bairro nobre da capital paulista, mas nem sempre foi assim. A região foi desenvolvida pelo próprio estádio que, enquanto era construído, encontrava-se em meio ao nada. O terreno sobre o qual se ergue o gigante Morumbi foi, até meados dos anos 50, uma área alagadiça e de mata fechada, do “outro lado” do rio Pinheiros e fora do núcleo urbano paulistano – em suma, longe de tudo e de todos.




    Com formato circular, o estádio tem uma entrada que mostra a estrutura que suspende parte da arquibancada. O projeto de Vilanova Artigas deu origem a uma construção forte, robusta, de linhas arrojadas e ao mesmo tempo agressivas.

    As 72 famosas colunas em "y", chamadas gigantes, sustentam 700 toneladas de peso cada uma. Verdadeiramente uma estrutura colossal, tanto que o programa "O Mundo Sem Ninguém - América Latina", do History Channel, afirmou, categoricamente, que o Estádio do Morumbi seria uma daquelas obras que durariam milênios, mesmo sem ninguém para resguardá-la. Durante sua construção, a prefeitura propôs uma troca: o Morumbi ficaria para a cidade e o Pacaembu seria do São Paulo F.C., mas a diretoria do clube não aceitou.


escola de itanhaém

    Projeto desenvolvido em 1959, por Artigas Vilanova e Carlos Cascaldi. A escola é uma sequencia de pórticos, reproduzidos em um processo de extrusão, apresentado três apoios inclinados, permitindo a criação de beirais em frente as salas de aula. A volumetria exterior do edifício apresenta a leitura do vão completo, sem a presença de nenhum pilar intermediário nas fachadas laterais. Com o 


casinha

    Casinha, como ficou conhecida, foi construída em 1942, cinco anos após Vilanova Artigas ter se formado arquiteto-engenheiro pela Escola Politécnica de São Paulo, tendo trabalhado com Oswaldo Bratke e Warchavchik além de paralelamente manter sua construtora – Marone e Artigas – onde, até 1942 construiu aproximadamente 40 casas. No entanto, a casinha foi a primeira construída para si, fato que lhe outorga uma liberdade não alcançada nos projetos desenvolvidos até então.

    Ainda que sua importância seja relativamente pequena, quando comparada a outros projetos posteriores, faz-se importante considerarmos algumas questões levantadas por Artigas neste pequeno projeto, sobretudo questões que dizem respeito às inúmeras rupturas em relação à planta da casa tradicional paulista, que ainda carregava valores vinculados a uma estrutura colonial-escravocrata.

    A casa foi implantada em 45° no terreno de maneira a desfazer qualquer tipo de hierarquia entre fachada principal, frente e fundo, desaparecendo com isso uma relação já caduca, herdada do período colonial, entre lote urbano e edifício.

    Essa solução – abandonada posteriormente, devido às condições do lote padrão em São Paulo, estreito e comprido – determina perspectivas no lugar das quatro fachadas, ressaltadas também pela preocupação no desenho e composição das vistas.

 

    Desaparece também nesta casa outro tipo de hierarquia – a separação entre áreas nobres e não nobres – através da disposição das áreas de serviços, agora unidas de maneira racional, tanto em função do uso quanto da economia. Trazendo desta forma a edícula para junto do corpo da casa, integrando também a cozinha à sala – sem o uso de portas ou paredes – estruturando toda a circulação a partir de um volume central, no caso o banheiro e a lareira, funcionando como uma espécie de pivô, solução que, à margem de questões formais, nos aproxima do esquema das prairie houses de Wright.



 

rodoviária de londrina

    Rodoviária de Londrina foi concebida em 1952, Implantado como uma continuação da Praça Rocha Pombo, o projeto da rodoviária se desenvolve longitudinalmente ao eixo Leste-Oeste, é tombado pelo patrimônio histórico. A proposta da estrutura materializa-se por meio de um conjunto de cascas de concreto com doze centímetros de espessura. É uma planta livre que  que são interligados por escadas e rampas, que abriga as funções administrativas e de serviços de apoio aos passageiros em trânsito.


    A solução estrutural em casca de concreto tem como apoio intermediário entre as calotas, vigas em forma de V que cumprem duas funções simultaneamente. A primeira, de funcionar como calha para captação das águas pluviais, e a segunda, quando ficam em balanço após os apoios dos pilares, cumprem a função de provocar uma tensão inversa sobre a casca, solução criativa que permite que as cascas atinjam espessura média de doze centímetros. Da mesma forma, a armadura da casca é inovadora, pois acaba por produzir uma força de tração decorrente da perfeita conjugação harmoniosa entre os caminhos das tensões e o desenho da forma arquitetônica proposta pelo arquiteto.


A Praça Rocha Pombo dá a continuidade ao terminal, unindo-se a este por meio de escadas e fazendo a integração com a parte baixa da cidade, criando eixos de passagem com bela integração paisagística. O projeto paisagístico da praça foi executado em 1954, compondo-a de forma ajeitada aos espaços públicos da rodoviária.

fau - usp


    Artigas inicia o projeto do edifício da FAU em 1961 com Carlos Cascaldi, seu colaborador em diversas obras realizadas no período. Professor da Escola de Arquitetura da USP, que funcionava até então na antiga Vila Penteado –casarão art nouveau localizado à rua Maranhão, no bairro paulistano de Higienópolis–, Artigas realiza um projeto para a faculdade, que evidencia as linhas mestras de sua concepção de arquitetura, bem como suas ideias a respeito da formação do arquiteto..

    No terreno plano da cidade universitária, testa e aprimora soluções já experimentadas, por exemplo, em dois colégios estaduais paulistas, o de Itanhaém (1960-1961) e o de Guarulhos (1961), realizados também em parceria com Cascaldi. O uso do concretobruto, do vidro, a simplicidade de suas linhas, assim como a ênfase na integração dos espaços caracterizam esses edifícios, econômicos, funcionais e plasticamente originais.

    A proposta central do projeto reside na ideia de continuidade espacial, que o grande vazio central explicita. Os seis pavimentos, ligados por suaves e amplas rampas de inclinações variáveis, dão a sensação de um só plano. Todos os espaços do prédio encontram-se fisicamente interligados: as divisões utilizadas para separá-los não os seccionam de fato, apenas marcam diferenças de usos e funções.

    Os amplos espaços abertos e a comunicação entre os diferentes setores sublinham a necessidade de convivência e o ideal de um modo de vida comunitário que a arquitetura de Artigas defende. O edifício foi pensado como a levada ao espaço das ideias de democracia, através de ambientes dignos, sem portas de entrada. Se desejava que fosse como um templo, onde todas as atividades fossem permitidas.


    A liberdade de experimentação e movimento que a estrutura arquitetônica propõe dialoga de perto com a concepção de ensino de arquitetura defendida por Artigas. A escola é concebida como um grande laboratório de ensaios, que articula arte, técnicas industriais e atividades artesanais, em um espírito de formação ampla para um profissional completo, de acordo com a filosofia da Bauhaus.

    As ideias de desenho e projeto estruturam o curso, que se desenvolve em torno do estúdio ou ateliê, pensados como espaços de aula e também de discussão. Na área interna do prédio encontram-se: oficinas de modelos, tipografia, laboratório fotográfico, estúdios, salas de aula, além de um auditório, biblioteca, café, secretarias, departamentos, um ateliê interdepartamental, o salão caramelo – amplo espaço de convívio social – e o museu “caracol”.  Os espaços comunitários indicam a necessidade de aprendizado político; afinal, é nas assembleias que devem ser tomadas em conjunto –por professores, alunos e funcionários– as decisões pedagógicas.

    Tombado pelo CONDEPHAAT como patrimônio cultural do Estado, o prédio da FAU/USP é considerado uma das obras-mestras de Artigas, cuja liderança emerge na década de 1950 e se torna uma das figuras mais importantes da arquitetura em São Paulo, na década seguinte.


Bibliografia:

https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.061/449 

http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa13159/vilanova-artigas

https://www.vivadecora.com.br/pro/arquitetos/vilanova-artigas/

http://www.saopaulofc.net/estrutura/morumbi/sobre-o-morumbi

https://arteforadomuseu.com.br/estadio-cicero-pompeu-de-toledo-estadio-do-morumbi-2/

https://www.nelsonkon.com.br/rodoviaria-de-londrina/
https://www.archdaily.com.br/br/774218/classicos-da-arquitetura-rodoviaria-de-londrina-vilanova-artigas

https://www.archdaily.com.br/br/01-12942/classicos-da-arquitetura-faculdade-de-arquitetura-e-urbanismo-da-universidade-de-sao-paulo-fau-usp-joao-vilanova-artigas-e-carlos-cascaldi

https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.191/6004

 


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